Estreia daqui a quatro dias o filme que fui ver esta noite, no último dia da Festa do Cinema Francês,
As Bonecas Russas.
É a continuação da "Residência Espanhola", mas isso não é importante. O que é importante é este filme. O Xavier tem agora 30 anos, ou vai a caminho disso, e está sozinho e, é claro, está
todo partidinho por dentro*. Ou não tivesse um sonho de amor por concretizar, ou não fosse tão susceptível à beleza, ou não ansiasse da vida o mesmo que frustra nela. Muito ao
nosso tom.
Sinto que a
minha geração se define, entre outras coisas mais existenciais/sociais/ culturais/etc., por esta
solidão. (Se coloco a palavra solidão em itálico é por uma questão de pudor, tentando manter as distâncias devidas dessa palavra tão pungente.) Uma
solidão que se desdobra em desejo (sem itálico), insatisfação e procura. A caça está sempre presente, tentando disfarçar esse outro desejo, tão íntimo e tão (in)confessável, de encontrar o amor. De agarrá-lo, de mantê-lo perto. Esse outro desejo nascido da idealização, mas também, paradoxalmente, de um certo desencanto.
Podemos deixar de acreditar, mas nunca deixamos, é claro, de acreditar. Perseguimos a beleza, entregamo-nos ao desejo, deixamos as coisas passar, fugimos, tudo em contradição. A contradição fundamental que nos define. Queremos, mas temos medo. Arriscamos, mas somos cegos.
Aos celibatários, pois bem, e aos pouco castos no seu celibato principalmente. Àqueles que conheço e aos que não conheço. Àqueles que, como é dito mais ou menos no filme, pensam "
andamos sempre à procura do amor. depois encontramos alguém e perguntamo-nos se é mesmo. e é só confusão. para quê? para quê o amor?". Porque, mesmo assim pensando em qualquer momento de desespero (alcoolizado ou não), a verdade é que sabem que ainda acreditam. Para
eles, desejo toda a sorte, mas principalmente desejo uma boa escolha.
* Expressão criada e desenvolvida durante as férias do cadafaz, por um casal e um trio de celibatários.